51° Painel TELEBRASIL: Brasil Digital surge como realidade irreversível – VI

Um dos grandes Debates Executivos durante o 51º Painel, ocorrido na Costa do Sauípe (BA), de 31/05/2007 a 02/06/2007, reuniu, sob a rubrica “Visão dos Fornecedores”, top executives das empresas Alcatel-Lucent e Cisco , Juniper, Motorola, NEC, Nokia-Siemens Networks, Padtec, Qualcomm e Trópico. Neste módulo, da série que integra o registro completo dos pronunciamentos do Painel, Davi Caproni (Juniper), Eduardo Stéfano (Motorola) e Paulo Castelo Branco (NEC).Alcatel-Lucent, Cisco, Juniper, Motorola, NEC, Nokia-Siemens Networks, Padtec, Qualcomm e Trópico são associadas TELEBRASIL.

Davi Caproni (presidente da Juniper do Brasil)
Tecnologia, olhando para o retorno do investidor.

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Davi Caproni abriu com um slide na tela com o título “Redes Convergentes: Desafios e Oportunidades”. Para o executivo, há consenso que a inclusão digital é uma necessidade e que o País precisa aumentar seus acessos em banda larga (hoje fala-se em 6 milhões). Há uma série de impedimentos, como carga tributária e distribuição de renda da população, para que os serviços em banda larga sejam expandidos.

“Tecnologia e remuneração do investidor” foram tônicas recorrentes na palestra de Davi Caproni. O sucesso, ou não, da inclusão digital está ligado à tecnologia utilizada, que permita a criação de modelos que remunerem o investimento. As demandas do mercado devem ser percebidas do ponto de vista do usuário e também do fornecedor de soluções. O desafio é como conciliar a demanda do usuário (corporativo, residencial, governo) com o retorno sobre o investimento das operadoras.

Desenvolvendo seu raciocínio em torno de slide básico, mostrou o palestrante que a estratégia sendo discutida hoje no mundo envolve a idéia de um núcleo operacional concêntrico (core, periferia, agregação, acesso), dando suporte a camadas de serviços, segurança, desempenho das aplicações, gerenciamento e política de redes até chegar ao usuário. Envolvidos circularmente no processo, há empresas de entrega de sinal, provedores de serviço e provedores de conteúdo.

O processo passa pela discussão do que deve mover o investimento em tecnologia a fim de facilitar a inclusão digital. Tal discussão não está circunscrita ao Brasil. Países como China e Índia se voltam para a inclusão digital, com banda larga. Na Coréia é plano de governo aumentar a oferta de banda larga. Mundialmente, há um movimento rumo à banda larga, que gera mais produtividade e favorece a economia dos países. É preciso, porém, remunerar o dono do capital e nesse sentido, em última instância, o que move o mundo das telecomunicações é o usuário.

– Em termos concretos, é o usuário quem decide quanto quer ou pode gastar em serviços de telecomunicações. Quer seja um usuário de alta ou baixa renda, gerando um ARPU (average revenue per user) alto ou baixo, ambos querem cada vez mais banda para utilizar. Serviços que demandam mais banda vão se traduzir por mais investimentos das operadoras que precisam estar razoavelmente certas de ter retorno. O primeiro motivador em todo esse processo é, então, o usuário. No mercado corporativo, a demanda é pautada pela necessidade de redução dos custos para aumentar o retorno do investidor. No Brasil, as operadoras estão desenvolvendo fortemente os serviços gerenciados que vão facilitar a inclusão digital e o acesso à banda larga para os usuários corporativos – explicou o palestrante.

O service provider ou operadora é dono da infra-estrutura. Ele tem sido pressionado por novos players, como provedores de conteúdo e de serviços de VoIP (voz sobre IP) que usam a própria estrutura da operadora. O que move o mercado de conteúdo, com empresas como Google e Yahoo, é um excesso de conteúdo na rede que consome uma enorme quantidade de banda. Justificando, afirmou Davi Caproni que “o grande universo que roda em comunicações já convergiu”. A interação entre operadora, fornecedor de conteúdo, mercado corporativo e usuário vai utilizar a mesma infra-estrutura.

As operadoras, em relação à infra-estrutura que possuem, têm olhado com muito cuidado os investimentos que têm feito. Independentemente das ações governamentais, a maneira com que uma operadora direcionar o crescimento de sua infra-estrutura, pode impactar de maneira significativa seu plano de negócios, caso não consiga convergir as aplicações e os serviços que vão ser definidos, dentro de dois a três anos. Há que ter um cuidado especial com a operação e a implementação de novos backbones e soluções para a infra-estrutura, visto que qualquer decisão nessa direção pode impactar os novos serviços e as novas definições que venham a ser feita, em particular, pela Anatel.

O executivo da Juniper considerou crítica a decisão tecnológica a ser tomada pelas operadoras. Sua empresa tem trabalhado em soluções que possam atender o mundo convergente e com isso trazer benefícios para a operadora e para o investidor. Lembrou que, sem retorno do capital, investimentos e inclusão digital não acontecem. O que conta nas empresas é o resultado. A tecnologia deve ser vista como um meio que deve trazer benefícios para o investidor e para o usuário, de um modo geral.

Ao terminar sua palestra, Davi Caproni referiu-se à leitura recente do livro de John Maeda, professor do Laboratório de Mídia, do MIT (Massachusetts Institute of Technology), denominado “As Leis da Simplicidade”. Disse que aplicou em sua empresa a primeira lei “reduzir”, ao centrar a sua exposição num slide que deu a visão da Juniper, do ponto de vista da operadora e do investidor.

Eduardo Stéfano (vice-presidente Network & Entreprise da Motorola)
Defendendo a mobilidade total.

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Eduardo Stéfano apresentou, valendo-se de slides, a visão da Motorola da mobilidade total e da convergência para o desenvolvimento de soluções, produtos e serviços. “Temos muito a contribuir para o Brasil Digital”, afirmou o executivo. A banda larga sem fio pode acelerar a inclusão digital. Os portfólios da empresa fornecedora contempla soluções em banda licenciada e não licenciada com o objetivo de atender a todos os segmentos do mercado.

A inclusão digital passa não somente pelas concentrações, hoje, existentes no mercado mas também praticamente a todos os municípios do País. As soluções passam por aplicações rurais, empresas, segmento corporativo e residencial, mas também – importante para a inclusão digital – para a municipalidade.

Os grandes beneficiários da oferta de soluções são as próprias operadoras que passam a se beneficiar de tecnologias convergentes e complementares que permitem às operadoras, em seus planos de negócios, chegar a redução de custos e melhores serviços a custos mais baixos para os consumidores. O Governo tem uma posição muito importante, ao desenvolver políticas de inclusão digital, além do e-gov (governo eletrônico), com o qual passa a ter ferramentas para oferecer serviços cada vez melhores ao cidadão. A tecnologia propicia a todas as empresas, independentemente de tamanho, a possibilidade de aumento de produtividade.

Existem inúmeros casos de sucesso no Brasil e no mundo. É importante olhar para outros mercados, até para aprender e aplicar aqui o que faz sentido para o País. Em particular, em países emergentes, a Motorola tem aplicado soluções sem fio com espectro licenciado WiMax para casos de sucesso. Para a Wateen, no Paquistão, a Motorola fez uma rede em banda larga em todo o território, provendo acesso de voz via Internet, dados para toda a população. Para a Agni, em Dhaka, no Bangladesh, foram aplicações em Internet. O caso da Nextel e da Sprint – que operam em mercado distinto do Brasil – que utilizaram a tecnologia WiMax para propiciar a evolução e a convergência de suas redes.

No Brasil, apesar de uma série de dificuldades no processo regulatório, o espectro de freqüência não licenciado tem propiciado muitas oportunidades de inclusão digital. É o caso de Macaé (RJ), com a interligação de todas secretarias e hospitais da cidade e ao provimento de pontos de acesso para os usuários, em locais públicos como praças e áreas livres. No Rio Grande do Sul, a Procempa tem como missão a “Porto Alegre Digital”, com 350 pontos de acesso até o final do ano em toda a capital. Apesar das dificuldades regulatórias, a indústria tem procurado buscar soluções para o País e para seus municípios, utilizando faixas de freqüências não licenciadas.

Como contribuição ao debate, Eduardo Stéfano disse ser importante olhar outros mercados similares do ponto de vista socioeconômico com o Brasil e entender o movimento tecnológico nessas regiões. Através do processo regulatório, não é possível impor limitações de mobilidade ou às tecnologia atuais. É preciso estar atento à evolução da mobilidade – ninguém hoje vive sem ela – e ter regras claras para essa evolução. Sobre concorrência entre tecnologias, elas podem ser complementares, como entre 3G (celular) e WiMax.

É preciso entender o momento vivido por cada operadora e o modelo de negócios aplicável, adequando a tecnologia para cada região do País levando maior benefício ao consumidor e usuário final. A inclusão digital é importante. Apesar da tecnologia celular no Brasil ter sido um sucesso com 102 milhões de acessos, não se deve esquecer que 40% dos municípios, equivalente a 20 milhões de assinantes, não têm sinal de celular. Será preciso pensar em modelos de negócios que viabilizem esse acesso. A banda larga wireless (sem fio) será cada vez mais importante para a inclusão digital a custos acessíveis.

Paulo Gomes Castelo Branco (presidente da NEC do Brasil)
Um roteiro de A a Z para o Brasil Digital.

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Paulo Castelo Branco se ateve ao tema proposto de “Soluções Tecnológicas para Redes e Serviços Convergentes para um Brasil Digital”. Comentou que se fornecedores de tecnologia começarem a falar de política e de negócios, as operadoras se verão tentadas a tratar de tecnologia. A questão da inclusão digital é a de alcance – atingindo a base da pirâmide social – e de sustentabilidade do modelo (mantendo recursos públicos ou filantrópicos).

Na inclusão digital são duas questões: 1) como fazer que redes e serviços alcancem a base da pirâmide social; 2) definir claramente o que se pretende, ao proporcionar o acesso do cidadão ao Brasil Digital. Proporcionar somente o acesso e deixar por conta do usuário achar um finalidade para sua utilização seria levar o programa a um fracasso.

O palestrante citou o caso dos telecentros, “uma iniciativa louvável que pode proporcionar um primeiro contato das crianças e de adolescentes com a TIC”, e disse ter visitado tais locais, que, por serem mantidos por recursos públicos, pecam pela qualidade e pela utilização que, por não ter finalidade específica, serve apenas para entretenimento de adolescentes pela Internet.

Segundo o executivo da NEC, antes de tratar da questão tecnológica, há quatro questões preliminares a serem abordadas: 1) direcionamento estratégico; 2) papel do Estado e da iniciativa privada; 3) sustentabilidade do modelo; e 4) profundidade dos serviços.

Sobre a primeira questão, disse Paulo Castelo Branco ser preciso “um Planejamento Estratégico de País para o Brasil Digital”. Citou o evento Abinee Tec (o palestrante é também é vice-presidente da Abinee), de 23 a 27 de abril, em que um representante de Taiwan (China) apresentou planos para a inclusão digital e digitalização do País.

O Japão começou seu e-Japan em 2001, com o objetivo de tornar o País, em cinco anos, o mais avançado em termos de Tecnologia da Informação, e como objetivos secundários: conectividade Internet para todo cidadão até 2002, com construção da mais avançada rede de acesso à Internet até 2005, provendo acesso a 30 Mbit/s para 30 milhões de residências e a 100 Mbit/s para 10 milhões de domicílios.

O programa e-Japan, antes de ser concluído, foi substituído, em 2003, pelo e-Japan II, definindo sete áreas chaves de utilização da rede: medicina (prontuários on line); alimentação (tracking de alimentos); vida privada (segurança); financiamento (para PMEs); conhecimento (educação remota, difusão de conteúdos por Internet); trabalho (on-line); e serviços administrativos (on-line). Em 2005, o Japão fez um terceiro programa u-Japan com 100% da população com acesso à Internet rápida ou ultra-rápida e 80% da população “se sentindo confortável”, com o uso de TIC na solução de problemas sociais.

Enfatizou Paulo Castelo Branco que os programas do Japão tiveram continuidade e coerência e que, na terceira parte do programa japonês, houve ênfase na segurança da rede e da informação e na manutenção da privacidade do cidadão, algo que vai aparecer muito fortemente no caso brasileiro.

Os programas japoneses tiveram a chancela dos Governos, mas não foram implementados, nem subsidiados por eles. Foi a iniciativa privada que implementou. O Governo usou seu poder regulatório e seu poder de prover às leis necessárias para forçar a implantação do Programa. Afirmou o palestrante que “no Brasil poderia haver uma direção semelhante”, explicitando que “o Governo estabelece os objetivos, inclusive sociais, dá modelagem para que haja sustentabilidade ao programa, prevê o arcabouço legal e regulatório e deixa a iniciativa privada a tarefa de implementar, detalhar e operar”.

Segundo o executivo da NEC, o Governo não deve se tornar implementador ou operador, mas há de haver casos em que a sustentabilidade seria difícil. Nesses casos, e apenas neles, o Governo teria o papel de viabilizar, de alguma forma, essa sustentabilidade. O programa deveria se apoiar num ecossistema constituído por fornecedores de tecnologia, prestadores de serviços, governos (federal, estadual, municipal), escolas, grandes usuários de redes e pelas próprias comunidades. Caberia aos fornecedores de tecnologia o papel de trazer soluções de baixo custo, em terminais e redes. Aos provedores de serviço caberia o papel de operar as redes de modo rentável.

Já os Governos poderiam contribuir de quatro maneiras. A primeira como investidor. O Governo investiria em redes nas quais a iniciativa privada, comprovadamente, não encontrasse atração. O Governo investiria como financiador de terminais para a população de baixa renda. O Governo deveria prover apenas ao investimento inicial e não ao custeio dos investimentos.

A segunda, com uma real implementação do Governo Eletrônico. Em todas as esferas do Governo, as instituições governamentais seriam usuárias das redes e participando, dessa forma, no retorno do investimento. O próprio Governo “forçaria a barra” para que, cada vez mais, serviços governamentais fossem implementados como Governo Eletrônico. A terceira, como regulador. A quarta, como evolução do sistema educacional no contexto tecnológico, através de capacitação de programas de âmbito nacional visando a homogeneização do saber e das competências tecnológicas.

Caberia às escolas o papel de treinar os futuros usuários na utilização dos equipamentos, das redes e dos acessos ao serviço. Aos grandes usuários, como o sistema bancário, caberia oferecer serviços, via rede (reduziria o custo de atendimento a clientes).

Ao término de sua palestra, Paulo Castello Branco reafirmou que “cabe ao Governo fazer o direcionamento estratégico e coordenar as ações dos diversos atores e à empresa privada cooperar de forma econômica para o programa”.

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